O ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho, que assume nesta quarta-feira (26) a Vice-presidência do Tribunal Superior do Trabalho, é um homem de muitas facetas. Com várias obras jurídicas publicadas e dedicado ao trabalho e à vida religiosa, é também autor do "O mundo do Senhor dos Anéis", um guia completo do fantástico universo do escritor inglês J. R. R. Tolkien.
Quanto à forma como administra seu gabinete no TST, adota teses modernas de gestão, como a racionalidade do trabalho com metas a serem atingidas, que, no entanto, não são estranhas à disciplina presente na sua formação escolar jesuíta do Colégio São Luís, em São Paulo (SP).
Ives Gandra não cobra horário dos servidores do gabinete, mas produção e qualidade, inclusive na distribuição de gratificações. Quanto maior a gratificação, maior a responsabilidade e a produtividade exigida. "Cada um administra seu tempo. No final, eu concedo um mês de férias a mais para quem alcançou a meta", revela.
TST
Ives Gandra é natural da capital paulista, de onde saiu para Brasília, aos 23 anos, após ser aprovado em concurso público para técnico judiciário do TST. Cinco anos depois, com a aprovação em um curso para procurador, foi para o Ministério Público do Trabalho. De lá, saiu para asumir como ministro do TST pelo quinto constitucional em 1999.
Antes esteve no Gabinete Civil da Presidencia da República, na época de Fernando Henrique Cardoso, onde trabalhou na elaboração de projetos de lei.
Completou 31 anos de Justiça do Trabalho agora em fevereiro, assumindo, curiosamente, a Vice-Presidência do TST, o mesmo setor onde começou a trabalhar na Corte.
Ele é autor, entre outras obras jurídicas, do livro "Teoria e prática do recurso extraordinário trabalhista". O recurso extraordinário é destinado ao Supremo Tribunal Federal, sua análise de admissibilidade está entre as atividades futuras do novo vice-presidente.
Ele também tem uma visão muito racional e objetiva sobre a grande quantidade de recursos permitidos pela legislação brasileira. Defende a simplificação e uma menor quantidade deles e que os tribunais superiores sejam seletivos, com critérios bem restritivos para esses recursos. "O Tribunal tem que julgar temas e não casos. A gente não tem que ficar resolvendo problemas de fulano, beltrano e sicrano. Temos que dizer assim: tal artigo de lei tem que ser interpretado dessa ou daquela forma".
Senhor dos Anéis
A vida de Ives Gandra é, na prática, a dedicação espiritual, o trabalho e os livros, principalmente de literatura e história, além de esporte no final de semana, como tênis, corrida ou futebol. Ives Gandra diz que é feliz com a sua vida e que escolhas como o celibato fazem parte de uma decisão de Deus. Disciplinado, afirma que ama o trabalho, principalmente pelo papel social da Justiça do Trabalho, e que sempre está em busca de aperfeiçoa-lo.
Está relendo, mais de 30 anos depois, o livro "Guerra e Paz", de Leon Tolstoi. Conta que na infância, quando ia para a fazenda dos pais em Avaré, deixava de andar a cavalo, pescar ou jogar bola para ficar horas a fio na rede, lendo o romance da época napoleônica, "como se o mundo real fosse esse".
Ives Gandra tem uma relação forte com a fantasia literária. Gosta da possibilidade que os livros dão de fugir da realidade, de descansar depois das preocupações do dia-a-dia. Foi esse fascínio pelo mundo dos sonhos que o aproximou da trilogia "O Senhor dos Anéis". Ele não só leu a obra completa como virou um especialista. É autor do livro "O mundo do Senhor dos Anéis".
O livro é um guia da obra de J. R. R. Tolkien, com tabelas, resumo e textos explicativos. Conta com as ilustrações dos irmãos Hildebrandt e de Ted Nasmith, responsáveis pelas ilustrações originais de Tolkien. Ted veio ao Brasil em 2004, a convite do próprio Ives, onde deu entrevistas e expôs seu trabalho.
Ives Gandra participou inclusive da tradução de "O Senhor dos Anéis" pela editora Martins Filho. Para ele, a obra de Tolkien é recheada de valores perenes, com personagens que podem servir de modelo, em suas grandezas e misérias. "O que me atraiu mais na obra foi a sua completude, como um universo acabado. Poucos livros têm essa capacidade de atrair tanto".
(Augusto Fontenele)